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Brasília, 50 anos e um renascimento urgente

(Marco Antunes)

Quem não é de Brasília e ouve os absurdos que aconteceram em nossa cidade, há de pensar que, como a maioria dos brasileiros estamos acostumados ao escândalo, convivendo de tão perto com o Poder, que damos de ombro, sacudimos a cabeça e seguimos em frente. E pensará mal, pois em nossas quadras e eixos não conseguimos assentar essa decepção e sofremos verdadeira e profundamente. O brasiliense sofre na alma o que fizeram com nossa cidade.

Por que digo que tudo isso nos tocou de modo especial, traumático e talvez insanável? Porque nos enganaram mais fundo que apenas furtar nossos recursos e bens sociais tão duramente pagos em impostos e taxas, porque nos convenceram, até misticamente, que éramos a Capital da Esperança, a terra sonhada por Dom Bosco onde jorraria leite e mele se assentaria a tribuna da Justiça e o mais elevado altar da Liberdade.

Prometeram-nos habitar um sonho de Brasil e Cidadania, uma urbe idílica de profecias felizes e utopias reveladas. Criamos nossos filhos entre monumentos de concreto curvo e poesia, dizíamos a eles que daqui ergueríamos a nova Pátria, um país infinitamente melhor e mais humano em que todos se olhariam com igualdade, sócios da mesma esperança e credores da felicidade e da grandeza.

Vocês que vivem entre montanhas, pantanais, florestas ou no vasto litoral úmido que promete brisas tropicais e permanente diálogo com o mar, não zombem de nós, que num planalto abraçados pelo mais franco dos horizontes acreditamos nas promessas de uma urbe sagrada, civil e humana. Acreditamos com impulso de fé e ingenuidade de crianças, porque, afinal, era plausível que se avizinhasse a hora das aleluias e de um país refundado em ideais tão puros, tão castos, mas tão possíveis que era nosso dever e sacerdócio cuidar de seus símbolos e de seu culto cidadão!

Acreditamos porque nos cercaram de idéias e grandeza por todos os lados com aval do sol. Éramos os fiéis depositários do que de melhor essa Nação, arca de todas as raças, nave final da aventura humana enfim pousada, poderia oferecer ao mundo!

Hoje, o sonho se comemora entre vergonhas e desconfianças. Pela grande praça, cantaremos muitas canções, mas estaremos moralmente cabisbaixos, tristes, responsáveis pelo malogro de alguma coisa mais densa que um sonho da qual devíamos zelar.

Hoje, bateremos palmas e não deixaremos a esplanada ao silêncio, para que não seja a derrota irrevogável e para que o espólio de dignidade não escoe pelos bueiros em direção ao Paranoá!

Hoje, mesmo vencidos, estaremos cantando por nossa cidade.

Hoje, nos miraremos no espelho do futuro e vamos tentar reconstruir dessas ruínas, o Palácio perfeito de um sonho de que nunca desistimos.

Amanhã, será dia de trabalho, o primeiro a caminho da segunda metade do século que um dia comemoraremos menos tristes.
Por isso, quando o sol se puser logo mais, ore por nós, ore por essa cidade que ainda pulsa e crê. Somos feitas da matéria
dos sonhos, disse Shakespeare, nós brasilienses, prometemos ao Brasil usar o mesmo material e argamassa para reerguer a Utopia
com raízes de uma nova e possível.


Amigos,
compartilho com vocês este belo texto... um desabafo, na verdade, e peço: orem por nossa cidade, a capital de todos os brasileiros...
 
Bjs,
Gerlinda
Igreja de Confissão Luterana

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